“O governo está em pânico com o que essa mulher possa falar. É preciso ouvi-la", defendeu o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias
Marcela Mattos, de Brasília
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: padrinho de Rosemary
(Leandro Martins/Futura Pres)
Os senadores Pedro Simon (PMDB-RS), Pedro Taques (PDT-MT) e Randolfe
Rodrigues (PSOL-AP) protocolaram, nesta segunda-feira, um requerimento
na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) que convida o ministro da
Justiça José Eduardo Cardozo a depor sobre a Operação Porto Seguro,
deflagrada na última sexta-feira pela Polícia Federal. Como o
requerimento é de convite, Cardozo não é obrigado a comparecer para
prestar os esclarecimentos. O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) defende
que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também seja ouvido.
Para Taques, a presença de Cardozo na CCJ é essencial para as
investigações. “O Senado não pode ficar em berço esplêndido e não ouvir o
ministro. Nós queremos saber o que realmente ocorreu”, argumentou o
senador. Após o possível comparecimento do ministro da Justiça, o
próximo passo será ouvir outras autoridades, entre elas o número dois da
Advocacia-Geral da União, José Weber Holanda.
Também nesta segunda-feira, o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias,
protocolou requerimentos de convite a envolvidos no esquema de fraudes
de pareces técnicos. Na Comissão Mista de Controle das Atividades de
Inteligência, a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São
Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, foi chamada.
Para o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), o ex-presidente Lula deve
ser convidado para explicar as 122 ligações que fez para Rosemary
Noronha nos últimos dezenove meses. "Ele se diz apunhalado pelas costas.
Ele precisa dizer o por quê", argumentou. Para Sampaio, Lula tem de
explicar, ainda, o motivo do contato com a ex-chefe de gabinete, tendo
em vista que ele já não era presidente quando a fez as ligações.
Denise Andrade/AE
Rosemary Nóvoa de Noronha
"A Câmara tem o direito de saber disso tudo. Nossa função é legislar e
fiscalizar os atos do Executivo. Eles precisam vir explicar", disse, ao
reforçar que pretende convidar para depor na Comissão de Fiscalização e
Controle, além de Lula, o chefe da quadrilha Paulo Vieira, o
advogado-geral da União Luís Inácio Adams e também Rosemary.
Já na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle os requerimentos
convidaram o ex-diretor da Agência Nacional de Avião Civil (Anac),
Rubens Carlos Vieira, o ex-diretor Paulo Rodrigues Vieira, da Agência
Nacional das Águas (ANA), o advogado-geral da União adjunto, José Weber
Holanda, também afastado, e o advogado-geral da União, Luis Inácio
Adams.
Por fim, na Comissão de Defesa do Consumidor serão convidados, além dos
diretores afastados, o diretor-presidente da Anac, Marcelo Pacheco dos
Guaranys e da ANA, Vicente Andreu Guillo.
Durante discurso no plenário, Alvaro Dias (PSDB-PR) disse estar
assombrado de “como as falcatruas acontecem perto, muito perto mesmo,
dos mais estrelados gabinetes, inclusive o da Presidência da República”.
Para o senador, o governo tem medo do que a ex-chefe de gabinete pode
revelar. “O governo está em pânico com o que essa mulher possa falar, já
que mantém estreitas relações com a alta cúpula do Partido e do poder
no país. É preciso ouvi-la. Por isso a estamos convocando”, disse.
Na defesa - O líder do governo no Senado, Eduardo
Braga, tentou blindar Rosemary. Para ele, a presença dela no Congresso é
desnecessária. Rosemary indicou o chefe da quadrilha de fraude de
pareceres técnicos, Paulo Rodrigues Vieira, para o cargo de diretor da
Agência Nacional de Águas (ANA), e seu irmão, Rubens Carlos Vieira, para
a função de diretor de Infraestrutura Aeroportuária da Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac). Mesmo assim, Braga argumenta que não vê como a
ex-chefe de gabinete poderia ser incluída nas investigações.
“Ela é uma secretária, chefe de um gabinete que mal é usado”, tentou
contemporizar o líder do governo. Braga acredita que apenas os irmãos
Vieira devem ser ouvidos. “Às vezes você indica uma pessoa, mas não pode
ser responsabilizado por alguém que, por ventura, tenha indicado”,
disse. Rosemary, que foi exonerada pela presidente Dilma Rousseff,
usava sua influência para indicar aliados a cargos no governo. Nesta segunda-feira, sua filha,
Mirelle Nóvoa de Noronha Oshiro, foi exonerada do posto de assessora técnica do setor de Infraestrutura Portuária da Anac.