Adolescente de MS foi aprovada no Enem e conseguiu autorização judicial. 'Sempre me enturmo com pessoas mais velhas', afirma estudante.
Fernando da Mata
Do G1 MS
Nathaly e mãe com comprovante de matrícula no corredor da UFMS (Foto: Fernando da Mata/G1 MS)
Aos 14 anos, a estudante Nathaly Gomes Tenório conquistou, na Justiça, o
direito de cursar artes visuais na Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul (
UFMS). Com a documentação exigida em mãos, a adolescente foi ao campus da instituição em
Campo Grande, nessa segunda-feira (21), para fazer a matrícula acompanhada pela mãe, a advogada Edelária Gomes, 33 anos.
A decisão que deu aval para Nathaly se tornar universitária é do
desembargador Sérgio Fernandes Martins, da 1ª Seção Cível do Tribunal de
Justiça de
Mato Grosso do Sul
(TJMS). O magistrado concedeu mandado de segurança da garota, que foi
aprovada no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), e determinou a
expedição do certificado de conclusão do ensino médio.
Adolescente durante 'tour' pelo bloco de Artes na
UFMS (Foto: Fernando da Mata/G1 MS)
Nathaly, que se preparava para fazer o 2º ano do ensino médio em 2013, contou ao
G1 que fez o
Enem para treinar e inscreveu-se no
Sisu depois de ver que a sua média – de 647 – estava acima da nota de corte para artes visuais.
Pelo telefone da Central do Ministério da Educação, ela ficou sabendo que passou em 5º lugar no curso, que oferecia 26 vagas.
“Na hora que eu fiquei sabendo, passou muita coisa pela minha cabeça e
comecei a chorar. Eu estava com esperança, mas ao mesmo tempo estava
conformada que não ia passar”, afirmou.
Edelária foi uma das primeiras pessoas a saber do feito da filha. “Ela
me acordou 1h da manhã para falar que tinha saído a lista e que ela
tinha se classificado.”
Apesar de ter concedido o mandado de segurança, o desembargador se
mostrou preocupado com o futuro da adolescente no ambiente acadêmico.
“Registro minha preocupação […] se realmente é saudável que uma
adolescente de apenas 14 anos de idade […] ingresse imediatamente em uma
universidade, passando a conviver em um ambiente pensado, projetado e
frequentado unicamente por adultos, em sua maioria jovens que iniciam a
fase de descobertas”, relatou Martins.
“Ela já tem esse conhecimento, tamanha é a maturidade. A escola
estadual não difere do ambiente acadêmico e ela já sabe se livrar desses
caminhos. Além disso, foi mãe na adolescência sem ficar grávida, pois
tinha 12 anos quando a irmãzinha dela nasceu e cuidou dela o tempo todo
enquanto eu trabalhava”, defendeu a mãe.
E agora?
Com a matrícula feita, Nathaly está ansiosa para começar as aulas. “São
coisas que eu gosto de mexer, como fotografia, sobreposição de objetos e
programas de computação, principalmente. Agora tenho que aprender a
desenhar”, disse, na torcida por uma boa adaptação. “Acho que vou ter
aceitação, pois sempre me enturmo com pessoas mais velhas.”
Com previsão de terminar o curso aos 18 anos, a adolescente quer cursar
jornalismo e depois direito, além de querer trabalhar em escola
pública. “Percebi muita deficiência no ensino no período que estudei em
escola estadual. Quero trabalhar para incentivar alunos, porque isso que
fizeram comigo”, afirmou.
Ainda no bloco de Artes, Nathaly admira obra em corredor (Foto: Fernando da Mata/G1 MS)